Lobo da Costa

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(1853 - 1888)



Jornalista, poeta e escritor brasileiro. Nasceu a 12 de julho de 1853, em Pelotas, Rio Grande do Sul. Morreu a 19 de junho de 1888, na mesma cidade. Filho de humilde família gaúcha, ficou órfão na infância, tendo de começar a trabalhar logo cedo. Aos catorze anos, foi escrevente de cartório e depois telegrafista no posto de correios local. Escreveu seus primeiros versos aos doze anos e, aos dezesseis, iniciou-se no jornalismo, publicando o primeiro livro: Espinhos d'alma (romance, 1872). Na imprensa, atuou e colaborou nos seguintes jornais: Ecos do sul; Castália; Trovador; Lanterna; Diário de Pelotas; Investigador; Gazeta Mercantil; 11 de Julho; Tribuna e Fronteira.

Em 1874 mudou-se para São Paulo pensando ingressar na Faculdade de Direito, o que não conseguiu, mas publicou seus Lucubrações (1874), único livro de poesia editado em vida.

Mudou-se para Florianópolis (SC) onde serviu como oficial de gabinete do governo, porém, em 1876 estava de volta a Pelotas, fundando jornais de vida curta. Ali, apaixonou-se por uma jovem da burguesia pelotense (Saturnina Elvira), mas por imposição da família dela, ambos foram impedidos de se ver. Magoado e humilhado, começou a beber e dedicar-se exclusivamente à poesia, viajar e a colaborar com pequenos e escandalosos jornais do interior. 

Em total desregramento e com o alcoolismo exacerbado, retornou a Pelotas, sendo recolhido à Santa Casa. Contudo, certa noite, burlou a vigilância dos enfermeiros e fugiu, embrenhando-se nos bares para se embriagar e se suicidar, atirando-se num fosso. A Wikipédia, no entanto, diz o seguinte sobre sua decadência e morte: "Em 1885, é internado pela primeira vez e, a partir daí, sua vida se divide entre hospitais e bares. No dia 18 de junho de 1888, deixa sem autorização a Santa Casa de Misericórdia de Pelotas e se dirige a uma região de bares chamada de Santa Cruz. No fim da tarde de inverno, é visto em tal região bebendo. É encontrado morto na manhã seguinte por um carroceiro, estando nu, caído numa vala tomada pelas águas da chuva. Ladrões haviam roubado seus pertences e suas roupas. Faleceu aos trinta e quatro anos."

Na cronologia de "Obra Poética: Lobo da Costa" nós encontramos o que se segue:

"1887 - Hospitalizado várias vezes, preocupa a sociedade que, consternada, mobiliza-se para auxiliá-lo, o Grêmio dos Lunáticos, uma associação de jovens intelectuais, elabora o opúsculo Charitas, cuja venda reverte em benefício do poeta. Mesmo no hospital ainda faz versos e recebe os amigos que vêm prestar homenagem ao mais popular dos poetas do Rio Grande.

 1888 - Permanece no hospital, desde o fim do ano anterior, sem interromper sua produção literária. A 18 de junho, Lobo da Costa sai do hospital sem destino certo. Procuram-no, mas não o encontram. É uma noite fria e chuvosa de inverno. Na manhã seguinte foi encontrado morto, ao relento, na Rua Santa Cruz, hoje Lobo da Costa. Sua morte noticiada em vários jornais repercute em toda a Província. Neste mesmo ano sai a primeira edição de Auras do Sul, compilada por Francisco de Paula Pires que reuniu e publicou grande parte de sua extensa obra, disseminada nos jornais e revistas da época."


Postumamente surgiram as obras:

- Auras do Sul  (1888)
- O Filho das Ondas  (s/d)
- Flores do Campo  (1905)
- Dispersas  (1910)
- As Melhores Poesias  (1927)

Em 2010 foi encontrado um manuscrito de sua peça em três atos "27 de Janeiro ou os Blancos em Jaguarão" (comédia). 


Algumas poesias:

Adeus
À sombra do Salgueiro
(Fragmentos)
Adeus! eu vou partir.  Por que soluças?  
Não brilha o pranto, a dor, à luz da festa, 
Nem a rosa, por pálida e modesta, 
Deve pender a fronte ainda em botão... 
Que eu te diga este adeus — manda o destino! 
Eu sou náufrago vil, sem norte ou guia, 
Açoitado por ventos de agonia
Nas cavernas fatais do coração.


Chorarás no momento em que eu te deixe,
Ou, quando perto eu for da tua herdade,
Passarás uma noite com saudade;
Mas a aurora trará mimos a flux...
E desperta de um sonho que te aflige,
Os passos sulcarás d'almo folguedo,
Esquecida daquele que tão cedo,
Sem amparo caiu vergado à cruz.


Trará o esquecimento alívio às dores;
Muitos dias talvez virão por este,
E das bagas do pranto que verteste
Brotarão os jasmins de um novo amor...
Cantarão no teu lar os passarinhos,
Muitas flores virão com a primavera,
E de mim ficará de uma outra era
Agudo espinho de saudosa dor.

Bem sei... há de custar-te a minha ausência,
Enquanto a ela tu não te acostumas.
Mas, ah! que nunca choram as espumas,
Quando soltas das vagas vão além!
É fatal, bem eu sinto, este momento!
Lisonjeia-me a dor do que não valho...
Olha: o manso gatinho no borralho,
Parece que a me olhar chora também.

Teu cãozinho de neve que tu amas,
No latido gentil, como que implora
Que eu não faça chorar sua senhora,
Ou pedindo-me em prantos, que eu não vá...
Mas quem sabe, se um dia, quando os tempos
De novo me trouxerem a estas plagas,
Não serás, ó cãozinho que me afagas,
O primeiro que então me morderá!

De lágrimas se funde o esquecimento
Com que algema o sentido mais dileto,
Não há, por mais gentil que seja o afeto,
Quem se possa eximir àquela essência.
É gelo que entibia as flores da alma, 
É fogo que consome alto destino.
E já vês, ó meu anjo peregrino,
Que não deves chorar a minha ausência.

Irei por sobre as ondas desfolhando
As flores da saudade, uma por uma;
Como elas, que fogem sobre a espuma,
Quem me diz onde irei? onde pairar?
E tu ficas à sombra de teus lares,
Sorrindo de ventura, anjo celeste,
E eu, quem sabe! se à sombra de um cipreste
Num profundo dormir — sem despertar

O tempo que corrói a pedra bruta,
Também destrói os frutos da memória.
Mal fora se, na vida transitória,
Não sucedesse ao golpe a cicatriz.
— Tudo arrasta da vida a vaga irosa,
O Sol que amanheceu baixa ao poente...
Só há uma saudade permanente,
— A saudade da mãe e a do infeliz.

Nunca viste a donzela lacrimosa
Curvada no ladrilho mortuário,
Beijando o esquife negro e solitário
Em que dorme o despojo maternal?
E dois anos após... nem tanto ainda!
Da festa no esplendor vir, orgulhosa,
Passando muitas vezes junto à lousa,
Sem lembrar-se do anjo do casal?

Já viste a triste mãe que um berço embala, 
Velando uma criança adormecida,
Consagrando-lhe esperança, amor e vida, 
Capaz de se finar se ela morrer;
E após, se a idade veste-a de esplendores,
Tornar-se seu algoz, ser seu patíbulo,
E ir vendê-la nas portas do prostíbulo,
Como rês inocente — a quem mais der?!
Nunca viste o mendigo esfarrapado
Beijar a mão bondosa que o ampara,
E depois, se a fortuna se lhe aclara,
Como Pedro negar ao próprio Cristo?
Nunca viste o impudor — calcando o pejo,
A dor desafiando — gargalhadas,
Em troca de carícias — punhaladas!
Nunca viste?  Pois eu já tenho visto.
Só guarda uma saudade quem por fado
Teve a dor do proscrito, a do abandono.
Assim, se eu não morrer, se o eterno sono
Não for além dormir, pomba adorada,
Lembrarei teus encantos e meiguices,
Chorarei de saudade — embora rias,
Cobrindo com meu manto de agonias
Os espinhos da cruz que me foi dada.
E se um dia nas praias do futuro
Rolar o meu cadáver de descrente,
Sepulta-o junto à margem onde a corrente
Só muda quando em fluxo recresce...
Onde os salgueiros têm as mesmas folhas
E é sempre a mesma viração sombria,
Onde só muda o Sol quando anoitece.
___


                              MINHA TERRA

                              Lá, na minha terra, quando
                              O luar banha o potreiro,
                              Passa cantando o tropeiro,
                              Cantando, sempre cantando;
                              Depois, avista-se o bando
                              Do gado que muge, adiante;
                              E um cão ladra bem distante,
                              Lá, bem distante, na serra;
                              Nunca foste à minha terra?!

                              Enfrena, pois, teu cavalo,
                              Ferra a espora, alça o chicote
                              E caminha a trote, a trote,
                              Se não quiseres cansá-lo.
                              Ainda não canta o galo,
                              É tempo de viajares.
                              Deixarás estes lugares,
                              Iras vendo novas cenas
                              Sempre amenas, muito amenas.

                             O laranjal reverdece,
                             E ao disco argênteo da lua,
                             Logo os olhos te aparece
                            A estrela deserta e nua.
                            ………………………………………………

Na Cela

Talvez tu leias meus versos
Ao longe, onde quer que estejas
E neles de manso vejas
Uns traços de quem chorou
Como do fúnebre arbusto
No triste e medroso galho
Treme uma gota de orvalho
Depois que a noite passou
Talvez tu leias e saibas
Do meu infortúnio a mágoa
E os olhos bem rasos d’água
Te fiquem por compaixão
E procures no silêncio
Da tua tristonha herdade
Abafar uma saudade
Que nasce do coração!
Mas, se soubesse que a parca
Roçou-me a fronte já fria
Uma lágrima sombria
Deixa dos olhos rolar
Mas não fales – não blasfemes
Contra os rigores da sorte
Pois bem sabes só a morte
Nos podia separar.

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Serenata

Acorda... escuta: os passarinhos cantam...
Olha: lá surge no deserto a luz;
É o sol vermelho que fugiu do leito,
Banhando a fronte nos regatos nus.

Ouve... Não ouves!... o tropeiro fala
Treme a viola na canção gentil,
E as borboletas despertando fogem
Dos seios frescos das cecéns de abril.

Não durmas... Olha como o mar palpita,
E a branca espuma silenciosa vai!
– A espuma é o anjo que dormiu na rede
E o mar o acorda murmurando: Amai!

Amor! a onda que descai serena...
Amor! as notas da cantiga vâ!
Amor! a infância, – as orações do berço...
Amor! o sono da gentil irmã.

Eia... desperta! Quanta luz se espalha!...
a aurora volta recamando o céu...
Serás a rosa ao suspirar das brisas;
Acorda... escuta... vem ouvir, – sou eu!...

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Epitáfio

No túmulo de D. Carolina Roxo

Dorme aqui na sombria soledade,
Quem viveu, sem viver, a flor mais bela!...
- Vós que passais, deixai uma saudade!...
Auras da noite - suspirai por ela!

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Obra Poética:



Galeria de fotos:



Busto em homenagem ao poeta.

(imagem do manuscrito encontrado de sua comédia em três atos)

(arte de Bruno Campelos)

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